2º Domingo da Quaresma
A
transfiguração é um desvelar-se provisório do mistério de Jesus para três
testemunhas privilegiadas, uma antecipação da ressurreição. Várias imagens desta
cena nos reportam à manifestação de Deus a Israel em Êxodo 24,9-18: o monte, os
seis dias, os três acompanhantes, o esplendor, a visão, a nuvem. Elias,
profeta, e Moisés, a principal testemunha daquela aliança, agora se tornam
testemunhas da glória de Jesus. É toda uma alusão ao êxodo e à aliança de Deus
com o seu povo, firmada agora na pessoa de Jesus.
O
relato da transfiguração, situado entre dois anúncios da paixão, quer revelar
aos discípulos que o destino do Messias é a glória, mas o caminho é a cruz.
Marcos ressalta a incompreensão dos discípulos (v. 6) e lembra que só há um
caminho para superar a incompreensão: ouvir e seguir Jesus. O testemunho do
Pai, como no batismo do Jordão, aponta para a pessoa de Jesus em quem os
discípulos devem crer. Para os discípulos, significa aceitar a cruz, o que
implica uma mudança radical no modo de pensar e de viver.
A
reação dos discípulos diante da cruz é a reação de qualquer ser humano. Diante
da doença, ou do fracasso, ou da morte, nós nos perguntamos: “Por que isso? Se
Deus existe, por que o mal”? Cada “porquê” é a expressão de um “porquê” mais
profundo sobre o sentido da vida, que se torna explícito em certos momentos da
existência quando somos forçados a fazer um julgamento sobre a nossa vida e
sobre o mundo.
Deus
não quer o sofrimento; em Jesus ele vence a dor e a morte e não nos quer
resignados. E no entanto, há um sofrimento que não podemos evitar, aquele que
nos faz sair de nós mesmos e nos educa ao amor e à solidariedade. Ter domínio
de si, perdoar, ser feliz, apesar de tudo, recomeçar depois de cada fracasso,
aceitar nossos próprios limites e os de quem convive conosco, praticar a
não-violência em um mundo cheio de violência... Tudo custa, mas sem isso não
podemos crescer como pessoas. A partir desta ótica, podemos descobrir o
desígnio de Deus até mesmo no sofrimento mais absurdo.
Na
assembleia litúrgica, somos iluminados pela Palavra e somos encorajados a
perseverar no caminho de Jesus, aprendendo com ele a obedecer a obediência,
descobrindo dentro de nós a dignidade de filhas e filhos de Deus, como um
segredo, que sustenta em nós a escolha pelo amor.
Fonte:
https://cebi.org.br/espiritualidade/
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